Já não é a primeira vez que o deputado João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, mostra todo o seu sectarismo. Foi quando se candidatou à Câmara do Porto (e baseou toda a sua campanha em ataques à CDU). Foi no debate entre Francisco Louçã e Paulo Portas (a gaffe de Louçã do “eu já procriei” é desculpável, tendo em conta o irritante oponente no debate, mas não deixa de ser uma gaffe; indesculpável pareceu-me a defesa cerrada que Teixeira Lopes fez do líder bloquista, sem paralelo mesmo no seu partido). É no ataque periódico que faz ao ministro do Ensino Superior, a maior parte das vezes sem razão. Mas a pior de todas foi a recente crítica a Rui Rio por pertencer a um movimento pelo “sim” no referendo, por alegadamente o Presidente da Câmara do Porto querer “branquear” a sua imagem junto do eleitorado de centro-esquerda.
Alguém explica a este senhor que o próximo referendo não é uma luta partidária? E que quantos mais líderes do centro e da direita apoiarem a despenalização, melhor para o “sim”? E que ele é que deveria deixar as críticas ao executivo da Câmara do Porto, por muito justas que sejam, para a ocasião devida, que não é a campanha do próximo referendo? Que ele deveria pôr os interesses puramente partidários de lado? Que uma vitória da despenalização não é só uma vitória do Bloco de Esquerda – é uma vitória de todos os qua a apoiam, incluindo – felizmente – Rui Rio e muitas pessoas ligadas ao PSD?
Embora eu nunca concordasse com ela – todos os apoios são bem-vindos -, uma acusação de oportunismo semelhante à lançada por João Teixeira Lopes poderia ter uma atenuante no caso de o visado se tratar de um político que em 1998 não tivesse feito campanha pelo “sim”. Mas não é esse o caso – Rui Rio nesse aspecto revelou sempre uma grande coragem política, votando mesmo contra a orientação do seu partido, como deputado, em 1997, quando a despenalização foi aprovada no Parlamento, antes de Guterres e Marcelo “decidirem” que era melhor haver um referendo. Em matéria de combate pela despenalização do aborto – e já agora de independência política – Rui Rio não deve nada a João Teixeira Lopes. Se calhar o oposto é que já não é verdade.
Já passou uma semana sobre estas tristíssimas declarações. Eu não li nenhuma referência ao assunto na blogosfera, nomeadamente por parte de dois blógueres que – tenho a certeza – não perdoariam se fosse o PCP a armar-se em “dono do sim”: este e este. Dois blógueres de quem eu gosto e respeito. No caso do Tiago, creio que tal afecta seriamente a reputação de independência que ele foi construindo. Valham-nos as senhoras que escrevem neste blogue, pelas suas crónicas de sexta feira no DN (incompletas na rede).
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