Não me interpretem mal: diverti-me imenso com a genial peça de Aristófanes. Mas admito que tenho um problema. É que não foi apenas Eurípedes a ser ridicularizado na última secção d' As Rãs; foram todos aqueles que, como eu, sempre preferiram Eurípedes a Ésquilo. Gostaria, por esse motivo, que Aristófanes tivesse escrito outra peça (sei lá, As Lagartixas) em que submetesse Ésquilo ao mesmo tratamento. Não só pela graça que certamente teria, mas também como uma demonstração do pluralismo democrático do melhor humorista ateniense da sua geração (e um humorista ateniense que não demonstre claramente o seu pluralismo democrático tem apenas metade da piada). O material era inegavelmente bom - não esqueçamos que Ésquilo foi assassinado por uma águia que confundiu a sua careca com um calhau - e teria demonstrado à posteridade que Aristófanes não transportava militâncias para cima do palco.
(Na imagem: Cocas, rã, criado por Jim Henson, que era um grande pluralista democrático e que não teve culpa nenhuma de ser traduzido para português por pessoas que não prestavam atenção às aulas de Biologia. Um amigo argentino contou-me que, no país dele, chamam ao bicho La Rana René, uma solução manifestamente pior.)
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